terça-feira, 14 de julho de 2015

O polêmico debate sobre a redução da maioridade penal




Caros leitores (as), hoje em nossa coluna trataremos sobre um assunto que esta sendo amplamente debatido em nosso país, a redução da maioridade penal, algumas pesquisas foram realizadas e apontam que aproximadamente 90 % (noventa por cento) da população são favoráveis a redução da maioridade penal dos atuais 18 para 16 anos, muitos brasileiros justificam esse posicionamento por acreditarem que os menores de idade cometem crimes e acabam ficando impunes.

Pois bem, a legislação brasileira através do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que o maior de 12 e menor de 18 anos, pode e deve ser punido por seus ilícitos, que são denominados atos infracionais e estão sujeitos a medidas socioeducativas que podem ir desde liberdade assistida até mesmo ao internamento que retira o menor infrator do convívio social, esses processos quando aplicados aos jovens infratores tem o intuito de ajudá-los e  prepará-los a recomeçar sua vida adulta dentro do que é socialmente estabelecido.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma lei muito bem elaborada e reconhecida mundialmente como uma das melhores legislações sobre direitos, deveres e garantias das Crianças e Adolescentes; porém muitos desses direitos e garantias nunca saem do papel e grande parte de nossos jovens, na sua grande maioria, pobres, vivem à mercê da própria sorte, e desde cedo são excluídos pela sociedade e desamparados por um Estado omisso e ineficiente em suas políticas públicas.

Segundo dados oficiais da ONU – Organização das Nações Unidas, o percentual de jovens brasileiros envolvidos em crimes dolosos contra a vida não chega ao percentual de 1% (hum por cento), isso mesmo 1% (hum por cento), então porque nossos políticos estão mobilizados pela redução da maioridade penal e porque a população clama pela redução?

Bem, provavelmente isso seja reflexo de um dos maiores poderes existente no país, a mídia televisiva, como demonstrada pela ONU o percentual de jovens envolvidos em crimes dolosos contra a vida é pequeno, todavia quando ocorrem, ganham espaços imensos em programas sensacionalistas que tem como único objetivo aumentar sua audiência.

Muitos políticos enxergam nesses programas sensacionalistas um verdadeiro “mar de votos”, inclusive muitos desses apresentadores são políticos ou ligados a partidos políticos, e como a maioria dos telespectadores se torna a favor da redução após influência desses programas, nada melhor, mais barato e mais rápido do que afinar o discurso e declarar que a solução para reduzir a violência é o encarceramento dos jovens criminosos em estabelecimentos penais. 

Com esse discurso fica mais fácil se reelegerem, agora se fossem pelo caminho da educação, dos investimentos em professores e escolas, essa sim seria uma verdadeira solução, porém demoraria cerca de quinze a vinte anos para colher os bons frutos; só que para alguns políticos isso não dá voto, a preocupação é a reeleição a curto prazo e não a educação a longo prazo.

Não estou querendo ser hipócrita ao ponto de afirmar que jovens não cometem crimes contra a vida, pois cometem sim, e quando isso ocorre precisam sofrer as medidas socioeducativas para que não voltem a cometer delitos e possam ter a oportunidade de iniciar uma vida adulta diferente da que tinham quando eram menores infratores, uma oportunidade de apreenderem com seus erros e reescreverem suas histórias.

Como todos sabem no Brasil as Delegacias e Penitenciarias estão superlotadas e sucateadas, um sistema prisional falido que funciona apenas como um gigantesco depósito de humanos que são considerados o “lixo da sociedade”, que são mantidos encarcerados sem as mínimas condições de dignidade da pessoa humana, um sistema carcerário que não separa o preso pelo seu grau de periculosidade, pelo contrário, mantém todos juntos desde o cidadão que furtou uma galinha até o grande ladrão de bancos ou mega traficantes, ou seja, este tipo de sistema é a verdadeira universidade do crime e não ressocializa ninguém.

Essa proposta de redução da maioridade penal, decreta ao jovem maior de 16 e menor de 18 anos a extinção de qualquer oportunidade ou escolha de mudança, pois a partir do momento que esse jovem for inserido em nosso sistema prisional falido, ele buscará proteção dentro da cadeia para não ser espancado, morto ou estuprado. Essa proteção e apoio virão de facções criminosas que literalmente o batizarão e irão formá-lo com todas as honras no mundo do crime e quando esse jovem voltar para o convívio social terá que se sujeitar as ordens da facção, sem qualquer possibilidade de escolha voltara ainda com mais sede para a vida do crime, ou seja, ao invés de combatermos a violência com a educação iremos entregar nossos jovens para serem soldados do crime organizado. Essa conta vai ficar muito cara e a sociedade que vai pagar quando esses jovens voltarem para as ruas.

Não precisamos de mais leis, precisamos apenas aplicar as leis existentes de forma eficiente, o ECA é uma excelente legislação especial que precisa ser colocada em prática pelo Estado que atualmente se omite em relação aos jovens infratores, se o Estatuto da Criança e do Adolescente for colocado em prática e os jovens tiverem condições de ter acesso a educação e a cursos profissionalizantes que lhe ensinem um oficio e o insiram no mercado de trabalho, tenho certeza que muitos farão a escolha certa e poderão mudar seu destino e reescrever suas historias longe do cárcere.
Pense, Reflita!

Paulo Roberto Jesus Santos
Policial Civil
Especialista em Segurança Pública
Graduado em Gestão Pública
Bacharelando do Curso de Direito

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